Esteroides e culturismo, abuso de drogas

Culturistas professionais têm usado esteroides anabólicos durante muitos anos para modelar os seus corpos conforme querem. A principal razão para isto acontecer é o corpo ter-se tornado um objecto pelo qual as pessoas atingem as suas identidades, modificando o tamanho, forma e aparência. Nas palavras de Yvone Wiegers, publicadas no Jornal de Cultural Popular, isto implica que “os corpos tornaram-se corpos maleáveis, modelados sob a vigilância e trabalho árduo dos seus donos.” A este comentário, é necessário acrescentar que, de acordo com o Serviço de Informação de Drogas e Desporto, o uso de esteroides tem se expandido na Grã-Bretanha paralelamente à preocupação com a imagem. Além disto, o Questionário sobre o Crime Britânico afirma que o uso de esteroides é relatado mais frequentemente do que a heroina.  De facto um estudo revelado por Drogas: educação, prevenção e leis mostra que a troca de seringas no UK aumentou entre os consumidores de esteroides.
A maioria das investigações feitas com os culturistas e os esteroides concordam com a ideia que o corpo musculado é representativo daqueles que sacrificam conveniências pessoais e transcendem a dor física e psicológica para atingirem uma imagem masculina, no caso dos homens e combater a imagem frágil no caso das mulheres. Os culturistas homens desejam uma identidade hipermasculina baseada numa “mesormofia muscular”- corpo caracterizado por peito bastante desenvolvido, músculos nos braços e ombros largos e cintura mais fina. Por outro lado, as mulheres culturistas preocupam-se mais em conseguir corpos saudáveis, atléticos e tonificados, rejeitando todos os adjectivos que os homens associam aos seus corpos. Uma caracteristica comum é que para homens e mulheres o aumento da musculatura é sinónimo de maior auto-estima. Em parte isto deve-se ao facto de o culturismo proporcionar a necessária confiança para exercer controlo sobre alguém.
Outra razão porque os esteroides são importantes, particularmente para culturistas homens, é que os esteroides são um instrumento útil para combater uma masculinidade ferida. Seguindo a investigação de Helene Keane sobre o consumo de esteroides por homens e masculinidade publicada na Saúde:  um Jornal Interdisciplinar para o Estudo Social da Saúde, Doença e Medicina, pode-se afirmar que o consumo de esteroides entre homens é um sintoma de um desequilíbrio cultural motivado por uma das maiores doenças da cultura ocidental que é a obsessão com o corpo. Além do mais, o uso de esteroides é um sintoma de uma síndrome relativamente nova, chamada bigorexia.  De certa forma, esta síndrome é como o reverso da anorexia porque os doentes têm a necessidade de consumir esteroides, não apenas para resistir mas também para combater imagens dos media retratando o macho alfa. É precisamente o espaço entre a frustração produzida pela falta de identidade musculosa masculina e o desejo de adquirir uma, é o problema real do uso de esteroides.
O doente de bigorexia são homens cronicamente preocupados com a sua percepção de falta de músculo e vêem-se como pequenos e fracos apesar do seu tamanho e força normais. Estes sentimentos normalmente fazem com que sintam que não são homens a sério e quando estão a exercitar escondem os corpos com roupas largas, evitam praias, piscinas e balneários. Estas atitudes são semelhantes à anorexia nas jovens. Assim como os media e a pressão social para se ser magro promove a anorexia, a cultura do ginásio, as revistas de culturismo e os herois de Hollywood produzem um semelhante mas oposto distúrbio nos homens. Por outras palavras, as mulheres anorécticas deixam de comer e são obcecadas com dietas e medicamentos para continuarem magras, os homens com bigorexia exercitam demasiado e consomem esteroides para afirmarem a sua masculinidade. Outra caracteristica comum para homens e mulheres doentes destes distúrbios é que não conseguem ver os seus corpos como são realmente.
Os esteroides também levam ao consumo de outras drogas. Relatórios sobre o consumo de esteroides entre estudantes nos EUA publicado a partir dos anos 80 indicam que um número significante de consumidores NÃO eram participantes em desportos de competição, mas consumiam para melhorar a aparência, musculação e masculinidade. Os mesmos estudos demonstram que, apesar de serem diferentes de consumidores de outras drogas, os utilizadores de esteroides são susceptíveis de consumir álcool, tabaco e outras drogas recreativas, incluindo marijuana e concaína, do que os não consumidores. Uma das razões possíveis é que os esteroides são, normalmente, injectados, o que representa um passo no consumo de outras drogas. Sem dúvida, isto ocorre porque os consumidores tornam-se transgressores quando têm de recorrer ao mercado negro para obterem as seringas. Outra semelhança com as drogas convencionais é que os consumidores de esteroides apresentam uma masculinidade destrutiva, descontrolada e anti-social. Em muitos casos os consumidores mostram uma tendência para o risco e a agressão.
Os exemplos mencionados de irritabilidade, mau-humor e tendências agressivas podem produzir transformações na pessoa. A “raiva esteróide” é um fenómeno atribuído a distúrbios que podem ocorrer devido a doses elevadas de esteroides, a interrupção das doses e a dor psicológica resultante da perda dos músculos. Os efeitos negativos relacionados com a abstinência ou sobredosagem lembram as consequências em consumidores de outras drogas.  Esta percepção, no entanto, não é reconhecida entre os consumidores de esteroides por duas razões. A primeira, alguns só têm efeitos secundários até ser demasiado tarde, e segundo, os consumidores minimizam os efeitos secundários em comparação com os efeitos na imagem.  Além do mais, investigações mais detalhadas, estabelecem que um maior conhecimento sobre esteroides não influenciam no uso, e a educação sobre a droga não trava o consumo.