Como o México se tornou no maior fornecedor de metanfetamina para os EUA

A maioria da metanfetamina (‘cristal’) consumida nos Estados Unidos é agora originária da fronteira a Sul onde os cartéis mexicanos se tornaram peritos em química.

Richard Fahey, Director Adjunto no Departamento de Assuntos Internos (‘Department of Homeland Security’) notou que, "Neste momento [os cartéis mexicanos] controlam provavelmente 90 por cento do mercado de metanfetamina nos EUA."

De acordo com o Departamento de Saúde dos EUA, este mercado é de quase 600,000 consumidores (uma taxa de prevalência de 0,2 por cento), o que representa uma subida significativa desde 2010 quando aproximadamente 350,000 tinham consumido esta droga durante o mês prévio.

Na última década, o número de laboratórios de produção de cristal nos EUA confiscados pela ‘Drug Enforcement Administration (DEA)’ foi reduzido para metade, de 24,000 em 2004 para 11,573 no ano passado, o que denota uma redução drástica na produção doméstica. Ao mesmo tempo, apreensões de metanfetamina vinda do México na fronteira Sudoeste dos EUA aumentaram cerca de 200 por cento desde 2009 (ver gráfico) segundo dados mais recentes do DEA National Drug Threat Assessment Summary.

Legislação federal nos EUA e medidas repressivas dos agentes de segurança foram factores centrais que empurraram a produção para o sul da fronteira, mas outras razões também contribuiram para esta mudança: a metanfetamina Mexicana é mais barata e, de forma geral, mais pura. Tal como explicado pelo Sargento Jason Grellner, um agente de polícia no Missouri, às Vice News, os cartéis têm investido significativamente em pesquisa e desenvolvimento, alterando um dos isómeros na metanfetamina o que lhes permite produzir um produto praticamente puro desde 2010 quando o grau de pureza rondava apenas os 55 por cento.

Para além do mais, os cartéis têm vindo a utilizar um método antigo conhecido como ‘P2P’ (fenil-2-propanona) utilizado sobretudo durante os anos sessenta e setenta. Este método permite que grupos de crime organizado evitem uma lei Mexicana de 2008 que proíbe a importação de efedrina e pseudo-efedrina – ingredientes fundamentais na produção de cristal. De acordo com um relatório de 2013 pelo INCB, "apreensões de efedrina e pseudo-efedrina têm sido praticamente inexistentes [no Mexico] desde 2012, uma vez que a produção com ‘P2P’ se tornou no método mais usado." 

O método ‘P2P’ usa fenilacetato de etilo, um componente orgânico ilegal nos EUA mas não no México. Contudo, tal não quer dizer que os cartéis mexicanos tenham abandonado totalmente o uso de pseudo-efedrina para cozinhar cristal. Muito pelo contrário.   

Num examplo claro do chamado "efeito balão" em prática, os cartéis simplesmente tranferiram parte da produção de metanfetaminas para a vizinha Guatemala, onde no inicío deste ano as autoridades descobriram um dos maiores laboratórios de cristal na Guatemala até à data, provavelmente com ligações ao cartel Sinaloa. Em 2012, 16,000 kg de fenilacetato de etilo foram confiscados numa armazém na Guatemala, um sinal do aumento na comercialização de precursores químicos.

Tendo em conta todos estes factores de produção juntamente com uma queda no preço de retalho – uma descida de 290$ por grama pura para aproximadamente 100$, de acordo com o ‘DEA’ Agente Especial Jim Shrobe – não é supreendente que os laboratórios de cristal nos Estados Unidos estejam a diminuir.

De qualquer forma, esta mudança dramática e aumento de pureza não são necessariamente más notícias, defende o Sargento Grellner, que disse à AP:

“As boas notícias são que o cristal produzido no México não explode, não devora em chamas as nossas casas e não mata as nossas crianças tal como os laboratórios aqui nos EUA têm feito hà décadas."