Relatório: Mercado global de tráfico de drogas avaliado em meio trilião de dólares

Fonte: Pixabay

Um recente relatório revela uma impressionante estimativa relativa à escala global do tráfico de drogas. Dito documento detalha, igualmente, a variedade das novas tendências de tráfico.

 

Publicado pelo Global Financial Integrity (GFI), no dia 27 de Março, o relatório, intitulado Transnational Crime and the Developing World, avalia as tendências assim como a abrangência do tráfico de drogas transnacional. Segundo o documento, o mercado global correspondente ao tráfico de drogas assume um valor anual a nível global, que se estima estar entre os $426 biliões e os 652$ biliões (USD). Ditos valores tornam o tráfico de narcóticos  no segundo mercado ilícito mais lucrativo, estando apenas atrás do tráfico de bens pirateados, que se estima lucrar cerca de 1.13$ triliões anualmente. 

 

GFI, uma organização sem fins lucrativos estadunidense, cujo foco principal se centra nos fluxos económicos ilícitos, através do recurso a dados quantitativos oriundos de um número de fontes, nas quais se incluem ONGs, governos assim como órgãos executores de lei, sucedeu em alcançar os valores estimados de onze mercados ilegais.

 

 Fonte: Global Financial Integrity

 

O autor do relatório alerta, no entanto, que existe uma falta de precisão inerente na estimativa do valor de marcados ilegais, o que se prende com o facto de as suas “operações e transações serem secretas”. Consequentemente, o valor exato do mercado de drogas global é impossível de calcular enquanto o comércio de ditos elementos permanecer ilícito. Do mesmo modo, existem variações consideráveis no que concerne a forma como os vários países definem e regulam o tráfico de drogas assim como o valor daí resultante. Ditas variáveis resultam em inevitáveis inconsistências que incapacitam uma estimativa do valor anual de comércio. 

 

O autor deste relatório acredita que não estamos perante uma sobrestimação do valor do mercado, mas lidamos sim, com uma subestimação de dito valor. Isto, pois parece possível, e até provável, que seja traficado um valor mais elevado de drogas do que aquele especulado pelos vários governos. Adicionalmente, a estimativa da GFI considera apenas os mercados de canábis, cocaína, opiáceos e, “estimulantes semelhantes as anfetaminas” (ATS), não tendo em conta o valor correspondente a vários tipos de outras drogas, nas quais se inclui várias substancias psicoativas (NPS) recentes. Ditos NPS, como canabinóides sintéticos, possuem um carácter cujo objetivo é simular os efeitos de outras drogas ilegais.

 

No relatório está igualmente patente a proliferação da produção e tráfico de ATS e NPS em regiões com “fronteiras porosas ou destituídas de um controlo forte no que diz respeito a precursores químicos”. Ditos dados apontam um aumento da produção de metanfetaminas na América latina, recorrendo a químicos adquiridos através de canais legais chineses para fins ilegais, cujo produto final tem como alvo, compradores americanos. Dita tendência representa um exemplo perfeito das interligações internacionais nas quais o tráfico de drogas global assenta.

 

Como foi reportado pela TalkingDrugs, em Janeiro deste ano, o aumento da produção de metanfetaminas registado no contexto iraquiano, tem por detrás causas semelhantes. A instabilidade resultante de Guerra Civil Síria e a agravante dos conflitos com a ISIS, conduziram ao enfraquecimento das fronteiras do país, bem como colocou em causa a capacidade de controlo do tráfico doméstico de químicos, pelas autoridades. Uma fonte da Agencia de Segurança Nacional Iraquiana terá alertado, no ano passado, que “gangues criminosos [estão] a transformar o Iraque de um país de tráfico para um país [produtor]”.

 

Ainda assim, o mercado global de ATS é estimado ser o mercado de droga mais pequeno dos quatro mercados investigados.

 

 
Fonte: Global Financial Integrity

 

Segundo o relatório, o valor do mercado global de cocaína encontra-se entre $94 biliões e $143 biliões, assinalando um aumento em relação aos estimados $88 biliões registado sem 2008. Com efeito, o mercado da cocaína é o segundo maior mercado de drogas, atrás do mercado referente à canábis (que se encontra valorizado entre $183 biliões e $287 biliões). No que diz respeito ao principal país produtor de cocaína, de acordo com o relatório, dito título alternado entre a Colômbia e o Peru, algo que se deve a “distúrbios internos no que diz respeito ao cultivo e produção em apenas um país”. Dito conceito, conhecido como “o efeito balão, consiste na pressão que exercida pelas autoridades em delitos relacionados com narcóticos em determinada área levam a que os mesmos delitos se espalhem para uma localização diferente (“apertar determinado sitio num balão leva à sua expansão para outo lugar”)

 

Desde 2016, a Colômbia permanece como o principal produtor global de coca, a planta a partir da qual, a cocaína é produzida. No entanto, as táticas cada vez mais repressivas no que diz respeito à luta contra o tráfico de narcóticos exercidas pelo governo colombiano, o rotulo de principal produtor de coca pode vir a ser transferido para o Peru. Como foi reportado pela TalkingDrugs, em 2016, o Estado colombiano reintroduziu o uso de herbicidas potencialmente carcinogénicos, na tentativa de reprimir a produção de coca. 

 

O relatório enfatiza que os principais perigos resultantes do tráfico de drogas ao nível global recai principalmente em países em desenvolvimento, muitos dos quais em circunstancias politicas frágeis. No contexto destes países, a violência à qual recorrem grupos traficantes de drogas, deve ser um fator a ter em conta pelos governos para que estes “invistam recursos adicionais no que diz respeito à execução da lei, de modo a lidar de uma melhor maneira com estes ataques à estabilidade doméstica que direcionam fundos que podem ser utilizados em prol de um desenvolvimento sustentável”.

 

Referido conflito entre grupos traficantes de droga e os governos de países em desenvolvimento podem transforar-se num ciclo internamente alimentado, que resulta nem níveis crescentes de pobreza, no enfraquecimento do Estado que por sua vez, pode levar a um aumento de poder dos grupos traficantes de drogas. Por exemplo, como é descrito pelas Nações Unidas, o cultivo ilícito de drogas, nas quais se incluem o opio e a cocaína, está “interligado à pobreza rural”. Com efeito, se o desvio de recursos que seriam utilizados no desenvolvimento da lei resulta num aumento da pobreza, pode do mesmo modo, inadvertidamente, traduzir-se num aumento no número de pessoas que entram na produção ilegal de drogas.

 

O valor do tráfico global de drogas terá aumentando de tal forma, que ultrapassa o PIB de vários países. Como resposta, a GBI propõe um número de abordagens recomentadas, que se prendem com o aumento do escrutínio financeiro pelas agencias governamentais, através do qual os governos possam combater o tráfico de drogas no espectro das suas jurisdições. No entanto, o elo inerente entre o tráfico e a corrupção politica, tal como o “feito balão” acima referenciado, sugerem a necessidade de mudanças substanciais no que concerne a luta contra o tráfico.