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Ativistas brasileiros entregam manifesto para acabar com a guerra às drogas ao principal candidato presidencial

Enquanto os candidatos presidenciais e governadores de esquerda estão em silêncio ou esquivar a questão da política de drogas em suas campanhas e manifestos, há duas forças políticas ganhando força no Brasil. O primeiro surge de candidatos de direita com mentalidade militar. Destina-se a normalizar as operações policiais (uma pedra angular do proibicionismo) que ceifaram vários milhares de vidas nos últimos anos. O objetivo, claro, é fornecer mais equipamentos e treinamento para as forças policiais, enquanto elogiando operações letais que supostamente são realizadas para libertar a sociedade do flagelo dos fornecedores de drogas. Sob o disfarce da chamada manutenção da segurança pública, a Polícia Civil de São Paulo recentemente e ilegalmente preso psiquiatra que desenvolve projetos de redução de danos na região conhecida como Cracolândia.

 

Dandara Rudsan entrega cópia do Manifesto Emergencial Pelo Fim da Guerra às Drogas ao ex-presidente e principal candidato Luiz Inácio Lula da Silva. Fonte: Twitter

 

Por mais de uma década, Flavio Falcone trouxe dignidade e apoio sem julgamento para pessoas que têm relações problemáticas com substâncias e vivem em condições precárias. Esta não foi a primeira vez que Falcone ou outros reducionistas de danos foram visadas pelo estado. Projetos que visam preencher graves lacunas deixadas pelo governo – em torno de insegurança alimentar, assistência à saúde e habitação – são retratados como uma ameaça à segurança pública, como se a redução de danos possibilitasse o uso de drogas. Não importa se você é leigo ou um padre tentando distribuir lancheiras para os famintos, o ato de fornecer uma refeição abre você para ataques violentos das inúmeras forças militarizadas implantadas pelo estado. Defensoria Pública do Estado de São Paulo arquivada um pedido de habeas corpus no Tribunal de Justiça do estado para que Falcone tenha o direito de continuar executando seu projeto de redução de danos na Cracolândia.

A segunda força emergindo com força nesta corrida eleitoral emana da sociedade civil. O Plataforma Brasileira de Política de Drogas, aliado ao Iniciativa negra para políticas de drogas, lançou a campanha “Você também é uma vítima na guerra contra as drogas", com um acompanhando Manifesto de Emergência pelo Fim da Guerra às Drogas, convidando a sociedade em geral a pensar como todos nós somos vítimas da violência associada ao proibicionismo. O manifesto está organizado em quatro eixos: a partir do Eixo “Cuidado”, convocando o governo a investir em iniciativas voltadas para a redução de danos. Entre as demandas estão o desenvolvimento de programas de educação sobre drogas, o investimento no sistema público de saúde, a oferta de atualização profissional contínua para assistentes sociais e de saúde e a oferta de espaços adequados para desenvolver programas de redução de danos.

Antropólogo Maurício Fiore, especialista em política de drogas brasileira, disse FalandoDrogas esse escrutínio dos serviços de tratamento de drogas também deve ser uma prioridade para o próximo presidente. “Uma questão chave que deve ser abordada pelo próximo governo não de extrema direita é a crescimento maciço no financiamento público de comunidades terapêuticas. São organizações privadas, não vinculadas ao sistema público de saúde, e geralmente associadas a organizações religiosas. Essas comunidades terapêuticas acolhem e isolam pessoas que fazem uso problemático ou são dependentes de drogas. É urgente a definição da natureza e regulamentação destas organizações, que se tornaram o eixo central da política do actual governo para os serviços de tratamento da toxicodependência”, afirmou.

O segundo eixo do manifesto, “Justiça e Segurança”, propõe a anistia de pessoas presas por posse de pequenas quantidades de substâncias proibidas, investimento em programas de reinserção social, responsabilização policial e participação da sociedade civil na fiscalização e fiscalização da Justiça e Departamentos de segurança. O Eixo “Regular para Reparar” traz demandas relacionadas à legalização e regulamentação de substâncias atualmente proibidas. A agenda estabelece claras demandas para associar esses processos ao empoderamento de comunidades historicamente visadas pelo Estado e sua Guerra às Drogas, visando evitar o captura corporativa de substâncias regulamentadas. Por fim, o Eixo “Participação e Controle Social” exige a reinserção de atores da sociedade civil no Conselho Nacional de Políticas de Drogas, a inclusão de pessoas que usam drogas no desenvolvimento da política de drogas e o fortalecimento do Escritório Nacional de Políticas de Drogas para desenvolver e monitorar abordagens intersetoriais à política de drogas.

O manifesto foi entregue ao ex-candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva pelo advogado e ativista Dandara Rudsan. Com demandas bem estruturadas e diretas, baseadas nas melhores práticas e ideias relacionadas à redução de danos, direitos humanos e reparações, o documento pode servir de orientação para Lula, se ele for eleito, complementar as questões relacionado à legislação antidrogas que assinou em 2006. Os desafios são muitos, mas se ele estiver disposto a ouvir a sociedade, principalmente a afetada pelas falhas da política de drogas, haverá uma oportunidade de transformação. O manifesto condensa as vozes e necessidades daqueles que vivenciaram a violência do Estado devido a delitos relacionados às drogas, tendo o potencial de influenciar políticas e legislações para evitar a reprodução de desigualdades associadas à atual política de drogas. Temos uma oportunidade única de usar nosso capital social e nosso direito de voto para garantir que essas demandas sejam atendidas.

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